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A forma de Sauron à época da Guerra do Anel


Sobre Sauron, o Senhor do Escuro, e a forma que ele assumiu quando tentou subjugar os povos livres no crepúsculo da Terra-média.


Por: Sérgio Ramos.

1. Introdução

Sauron foi o inimigo do Mundo, assim como o foi seu antecessor. Foi tanto o primeiro-tenente do Mal quanto seu herdeiro e sucessor, vindo a ser seu principal promotor na Terra-média, especialmente no decaimento desta, no final da Era dos Elfos e início da Era dos Homens.
Mestre no ardil, na dissimulação, habilidoso em palavras e no convencimento, poderoso nas tradições. Admirado pela maioria, sua principal forma de dominação era atiçar a fagulha de mal que havia dentro de cada pessoa, alimentando a chama do orgulho, cobiça e o desejo por poder.
Este artigo não tem o objetivo de falar sobre as maldades perpetradas por Sauron, nem relatar o curso de suas ações malignas, a não ser na medida necessária para mostrar o quanto as escolhas tomadas por ele têm íntima relação com sua aparência. A questão aqui é tratar da forma física do Senhor do Escuro e buscar saber qual(is) forma(s) ele assumiu, especialmente na época da Guerra do Anel. Será que ele era um olho gigante confinado ao topo de Barad-dûr, a Torre Escura?

2. Origens

Antes da criação do Mundo por Eru, O Único, também chamado de Ilúvatar, havia espíritos que lhe faziam companhia. Eram os Ainur, Os Sagrados. Destes, os mais poderosos eram os Valar, Os Poderes do Mundo, pois foram eles que entraram aqui primeiro para dar forma a Arda. Dentro da mitologia do Legendarium, homens chegaram a chama-los impropriamente de deuses; no entanto, só há um Deus, que é Eru. Os Valar estão mais para anjos, como muitas vezes foram referidos por J. R. R. Tolkien.
Juntamente com os Valar, desceram ao mundo criaturas também angelicais, de menor porte e majestade, mas também muito poderosas: os Maiar. Estes vieram para auxiliar os primeiros, e cada Vala possuía um Maia ou mais a seu serviço. Sauron era um Maia, especificamente da ordem do Vala Aulë, O Ferreiro, o mais habilidoso em invenções e produção de artefatos.

Sauron (arte de Lindowyn).
Das características de cada Vala trata “O Silmarillion”, onde também é relatada a queda de Melkor, depois chamado Morgoth, o maior dos Valar e primeiro Senhor do Escuro. Diz-se que, embora fossem espíritos, os Valar podiam assumir corpos visíveis quando desejassem. Eles não eram gigantes (o que é um erro comum quando observamos algumas artes conceituais). Conforme Tolkien:

“Os Valar não tinham corpos, mas podiam assumir formas. Após a vinda dos Eldar, eles mais comumente usavam a forma ´humana´, embora mais altos (não gigantescos) e mais magníficos.” (J. R. R. Tolkien – The History of Middle-Earth, vol. X, Morgoth´s Ring)

Da mesma forma, os Maiar podiam assumir a forma humana, embora não fosse raro que tomassem a forma de animais, por exemplo:

“Assim como os Valar vestiam-se como os Filhos [de Ilúvatar], muitos dos Maiar vestiam-se como outras coisas vivas inferiores, como árvores, flores, feras. (Huan).” (J. R. R. Tolkien – The History of Middle-Earth, vol. X, Morgoth´s Ring)

O temível Sauron também assumiu a forma dos Filhos, que, embora fossem suscetíveis à dominação, não deveriam ser dominados, assim:

“Foi por causa dessa preocupação com os Filhos de Deus que os espíritos tão frequentemente assumiam a forma e semelhança dos Filhos, especialmente após o surgimento destes. Foi assim que Sauron apareceu nesta forma. É mitologicamente suposto que quando essa forma era ´real´, isto é, uma realidade física no mundo físico e não uma visão transferida de mente para mente, levava algum tempo para ser construída. Era então destrutível como outros organismos físicos. Mas isso, é claro, não destruía o espírito nem o liberava do mundo ao qual estava ligado até o fim. (Carta 200, em As Cartas de J. R. R. Tolkien, editado por Humphrey Carpenter)
Sauron não servia ao mal no começo. Enquanto servidor de Aulë, aprendeu diversos ofícios e trabalhos habilidosos, além da forja de metais, conseguindo atingir primor técnico grandioso. Mas Melkor (Morgoth) o influenciou com a perspectiva de poder e conseguiu arrastá-lo para a Escuridão. Com tanta dedicação ao novo mestre, Sauron se tornou seu maior e mais temido servo, tão grande era sua vontade de possuir controle absoluto sobre todas as coisas. Segundo consta:
“Entre seus maiores servos que possuem nomes, o maior era aquele espírito que os eldar chamavam de Sauron, ou Gorthaur, o Cruel. No início, ele pertencia aos Maiar de Aulë e continuou poderoso na tradição daquele povo. Em todos os atos de Melkor, o Morgoth, em Arda, em seus intensos trabalhos e nas trapaças originadas por sua astúcia, Sauron teve participação; e era menos maligno do que seu senhor somente porque por muito tempo serviu a outro, e não a si mesmo.
No entanto, nos anos posteriores, ele se elevou como uma sombra de Morgoth e como um espectro de seu rancor, e o acompanhou no mesmo caminho desastroso de descida ao Vazio.” (J. R. R. Tolkien – O Silmarillion, Valaquenta – Dos Inimigos)

3. A Primeira Era

Neste período, Sauron ainda não era senhor por si só, pois cumpria as determinações de Morgoth. Em períodos posteriores, ao assumir o manto de Senhor do Escuro, Sauron imitou diversas atitudes de seu predecessor na forma de disseminar o mal, como veremos adiante, e isto não deve ter sido diferente no quesito aparência. Assim, se Morgoth, na Primeira Era, era descrito como “um Senhor cruel, alto e terrível” (J. R. R. Tolkien – O Silmarillion, cap. VIII, Do Ocaso de Valinor), de forma similar ocorreu com seu maior servidor, e vamos ver mais adiante que esta descrição vai ao encontro do que é dito sobre Sauron na Terceira Era. Mas, quando o mundo era jovem, Sauron podia assumir uma forma bela ou outra horrenda que revelava suas más intenções (assim também ocorreu com Morgoth enquanto ainda tinha poder suficiente para alterar sua forma).
Explica Tolkien que, quando Sauron:

“… Descobriu o quanto seu conhecimento era admirado por todas as outras criaturas racionais e o quão fácil era influenciá-las, seu orgulho tornou-se sem limites. Ao final da Segunda Era, assumira a posição de representante de Morgoth. Ao final da Terceira Era (embora na verdade muito mais fraco do que antes), afirmava ser Morgoth retornado.” (Carta 183, em As Cartas de J. R. R. Tolkien, editado por Humphrey Carpenter)

Repare como o autor afirma que, na Terceira Era, ele estava “muito mais fraco do que antes”. Isto será importante para entender como se deu sua apresentação física na época da Guerra do Anel.
Voltando à Primeira Era, é dito que:

“Sauron agora se tornara um feiticeiro de poder tremendo, mestre das sombras e dos espectros, torpe na inteligência, cruel na força, deformando tudo que tocava, confundindo o que governava, senhor de lobisomens.” (J. R. R. Tolkien – O Silmarillion, Da Ruína de Beleriand e da queda de Fingolfin)

Sauron estava então extremamente poderoso e, como ainda tinha muito da essência espiritual de um Ainu, era capaz de modificar sua forma ao ponto de, para apenas uma luta, alterá-la por três vezes (para lobisomem, serpente, forma costumeira, e ainda uma quarta após a luta: vampiro):
“Ora, Sauron bem conhecia, como todos naquela terra, o destino que estava determinado para o cão de Valinor, e lhe ocorreu que ele mesmo seria o instrumento desse destino. Assumiu, portanto, a forma de um lobisomem e se fez o mais poderoso que já havia pisado no mundo. E se apresentou para conquistar a passagem da fonte.
(..)
Contudo, nem feitiço nem encanto, nem garra nem veneno, nem arte demoníaca nem força animal, nada conseguiu derrubar: Huan de Valinor. E ele pegou o adversário pela garganta e o dominou. Sauron, então, mudou de forma, de lobo para serpente, e de monstro para sua forma costumeira, mas não conseguiu se livrar de Huan sem abandonar totalmente seu corpo. Antes que seu espírito imundo deixasse sua casa sinistra, Lúthien veio até ele e disse que ele perderia sua vestimenta de carne, e seu espectro seria mandado trêmulo de volta a Morgoth.” (J. R. R. Tolkien – O Silmarillion, De Beren e Lúthien)

Percebe-se, assim, que para se livrar das presas de Huan, Sauron deveria desistir de seu corpo. Mas, caso isso ocorresse, ele seria diminuído, voltaria ao estado espiritual e levaria muito tempo para conseguir reconstruir sua habitação corpórea novamente. Em virtude disso, ele acata o ultimato de Lúthien, evitando sua destruição pelo Cão de Valinor:

“- Lá para todo o sempre – disse-lhe Lúthien – teu eu nu suportará o tormento do escárnio de Morgoth e será perfurado pelos seus olhos, a menos que me cedas o comando de tua torre; Sauron então se rendeu, e Lúthien assumiu o comando da ilha e de tudo o que ali se encontrava.
E Huan o libertou. De imediato, Sauron assumiu a forma de um vampiro, imenso como uma nuvem escura que encobre a lua, fugiu, gotejando sangue da garganta sobre as árvores, e foi para a Taur-nu-Fuin, onde permaneceu, enchendo a região de horror.” (J. R. R. Tolkien – O Silmarillion, De Beren e Lúthien)

Importante verificar que fica implícito, na citação acima, que um ferimento imposto a uma forma física persiste quando há adoção de nova forma. Caso contrário, Sauron não teria voado na forma de vampiro com a garganta aberta. Por esta mesma razão, veremos mais à frente, ao ter seu dedo decepado por Isildur, mesmo reconstruindo sua forma física posteriormente, Sauron permanece com apenas quatro dedos na Mão Negra.
A próxima menção à forma física de Sauron ao final da Primeira Era e início da Segunda se dá com a conclusão da Guerra da Ira e derrota final do primeiro Senhor do Escuro:

“Quando as Thangorodrim foram destruídas, e Morgoth, derrubado, Sauron voltou a assumir sua bela aparência, prestou votos de obediência a Eönwë, o arauto de Manwë, e repudiou todos os seus atos maléficos. E sustentam alguns que de início não agiu assim com falsidade, mas que estava de fato arrependido, no mínimo por medo, já que ficara transtornado com a queda de Morgoth e a cólera imensa dos Senhores do Oeste.” (J. R. R. Tolkien – O Silmarillion, Dos Anéis de Poder e da Terceira Era)

No entanto, quando lhe foi ordenado que fosse a Aman suplicar pelo perdão dos Valar, Sauron teve vergonha e não quis se humilhar, buscando refúgio na Terra-média, que havia mudado sua configuração após as convulsões ocasionadas pela destruição de Beleriand.

4. A Segunda Era

Sauron, na Segunda Era, ainda era um ser de grande poder, e agora já não tinha mais Mestre, sendo ele agora O Senhor do Escuro. Segundo Tolkien:

“Sauron, é claro, não era ´mau´ em origem. Foi um ´espírito´ corrompido pelo Primeiro Senhor do Escuro (O Primeiro Rebelde subcriativo), Morgoth. Foi-lhe dada uma oportunidade de arrependimento, quando Morgoth foi derrotado, mas não pôde encarar a humilhação da retratação e da súplica pelo perdão; e, assim, sua inclinação temporária para o bem e para a ´benevolência´ terminou em uma recaída maior, até que se tornasse o principal representante do Mal de eras posteriores.” (Carta 153, em As Cartas de J. R. R. Tolkien, editado por Humphrey Carpenter)

Continua ainda o autor afirmando que:

“No início da Segunda Era ele ainda era belo de se ver, ou ainda podia assumir uma bela forma visível – e de fato não era totalmente mau, não a menos que todos os ´reformistas´ que desejam apressar-se com ´reconstrução´ e ´reorganização´ sejam totalmente maus, mesmo antes do orgulho e do desejo de exercer suas vontades de devorar.” (Carta 153, em As Cartas de J. R. R. Tolkien, editado por Humphrey Carpenter)

Percebe-se, assim, que do alto de seu poder no início da Segunda Era, Sauron “ainda” podia se apresentar em uma forma bela aos olhos dos Filhos de Ilúvatar. Analisando-se a sentença acima, é de se notar que, em algum momento posterior, ele já não poderia mais parecer belo, terminando por não poder esconder nem mais na aparência a maldade que ele pretendia.
Nesta Era do mundo, os fatos mais importantes ocorreram na ilha de Númenor, que foi dada como morada aos Edain (homens que haviam resistido e lutado contra Morgoth):

“Aos ancestrais dos Homens, das três Casas fiéis, também foi dada uma rica recompensa. Eönwë viveu entre eles e transmitiu conhecimentos. E a eles foram concedidos sabedoria, poder e vida mais longa do que a de quaisquer outros de raça mortal. Foi criada uma terra para ser habitada pelos edain, nem parte da Terra-média nem de Valinor, pois estava separada das duas por um vasto oceano. Foi erguida por Ossë das profundezas das Grandes Águas, e foi estabelecida por Aulë e enriquecida por Yavanna; e os eldar para lá levavam flores e fontes de Tol Eressëa. Essa terra os Valar chamaram de Andor, a Terra da Dádiva; e a Estrela de Eärendil brilhou luminosa no oeste como sinal de que tudo estava pronto, e para servir como guia pelo mar; e os homens se admiraram de ver aquela chama prateada nos caminhos do Sol.” (J. R. R. Tolkien – O Silmarillion, Akkalabêth)
Assim, chegando à sua nova morada, os homens “chamaram essa terra de Elenna, que significa Na Direção da Estrela; mas também Anadûnê, que significa Ponente, Númenorë no idioma alto-eldarin” (J. R. R. Tolkien – O Silmarillion, Akkalabêth).

Muito se fala no Akkalabêth sobre Númenor, do primeiro rei Elros, filho de Eärendil e irmão de Elrond, que escolheu o destino dos homens; do declínio da Terra-média e apogeu do Ponente sob a proteção dos Valar; das maravilhas e conquistas dos númenorianos e da interdição de navegarem para o Oeste.
Pois quando, em Númenor, crescia a vontade de burlar a interdição e os númenorianos duvidavam dos motivos dos Valar, Sauron voltava a crescer em poder na Terra-média, e assim iniciam-se seus trabalhos de enganação e dominação implícita:

“Sauron descobriu que os homens eram os mais fáceis de influenciar dentre todos os povos da Terra; mas por muito tempo procurou convencer os elfos a lhe prestarem serviço, pois sabia que os Primogênitos tinham maior poder. E andava livremente em meio a eles, e sua aparência ainda era de alguém belo e sábio. Somente a Lindon não ia, pois Gil-galad e Elrond duvidavam dele e de sua bela aparência; e, embora não soubessem quem ele era na realidade, não admitiam sua entrada naquele território. Em outras partes, entretanto, os elfos o recebiam com prazer, e poucos deles davam ouvidos aos mensageiros de Lindon que lhes recomendavam cautela. Pois Sauron adotou o nome de Annatar, Senhor dos Presentes, e a princípio muito proveito eles tiraram da amizade com ele.” (J. R. R. Tolkien – O Silmarillion, Dos Anéis de Poder e da Terceira Era)

Com a rejeição em Lindon, foi nos elfos de Eregion (Azevim) que Sauron/Annatar encontrou aprendizes no feitio de jóias, especialmente no líder e descendente de Fëanor: Celebrimbor, chefe dos joalheiros élficos Gwaith-i-Mírdain. Muito aprenderam estes Noldor com Annatar, que também se intitulou, ao mesmo tempo, como Aulendil (“devoto de Aulë”), e por alguns séculos fabricaram maravilhas incomparáveis, chegando a ser considerados os elfos mais habilidosos que haviam existido à exceção de Fëanor. Tudo culminou com a fabricação dos Anéis de Poder e a traição de Sauron, que havia criado o Um Anel para governar todos os outros.

Annatar, o Senhor dos Presentes (arte de Dan Pilla).
Assim explodiu a guerra entre Sauron e os elfos, que resultou na destruição de Eregion e morte de Celebrimbor. Os elfos, salvo aqueles dos portos que haviam rejeitado Sauron, ficaram arrasados e derrotados, e muitos dos sobreviventes embarcaram para o Oeste por sobre o oceano, nos tempos que ficaram conhecidos como Anos Escuros. O domínio de Sauron cresceu, e ele “não tolerava nenhuma liberdade nem rivalidade e se intitulou Senhor da Terra. Uma máscara ainda conseguia usar para poder enganar os olhos dos homens, se quisesse, parecendo-lhes sábio e belo. No entanto, governava mais pela força e pelo medo, se esses pudessem resolver. E aqueles que percebiam sua sombra a se espalhar pelo mundo o chamavam de Senhor do Escuro, e de Inimigo” (J. R. R. Tolkien – O Silmarillion, Dos Anéis de Poder e da Terceira Era).
Até que a poderosa frota de Númenor aportou na Terra-média e exigiu a rendição de Sauron. Neste momento, o Inimigo viu a oportunidade de realizar mais um ato maligno contra os Filhos de Ilúvatar – a derrocada de Númenor:

“Então Sauron recorreu ao logro. Entregou-se e foi levado a Númenor como refém-prisioneiro. Mas, é claro, ele era uma pessoa ´divina´ (nos termos desta mitologia; um membro menor da raça dos Valar) e, dessa forma, poderoso demais para ser controlado dessa maneira. Ele colocou firmemente a mente de Arpharazôn sob seu controle e, na ocasião, corrompeu muitos dos Númenoreanos, destruiu a concepção de Eru, agora representado como uma mera invenção dos Valar ou Senhores do Oeste (uma sanção fictícia a qual recorriam caso alguém questionasse suas decisões), e tomou o lugar uma religião satânica com um grande templo, a adoração do despojado e mais antigo dos Valar (o rebelde Senhor do Escuro da Primeira Era). Ele por fim induz Arpharazôn, assustado com a aproximação da velhice, a criar a maior de todas as armadas e lançar-se em guerra contra o próprio Reino Abençoado e tomá-lo à força e a sua ´imortalidade´ em suas próprias mãos.” (Carta 156, em As Cartas de J. R. R. Tolkien, editado por Humphrey Carpenter)

Este foi o fim de Númenor, que foi engolida pelos mares sob a ira dos Valar, e somente uns poucos Fiéis (que não foram dissuadidos por Sauron), liderados por Elendil, o Alto, conseguiram fugir para a Terra-média.
É na Queda de Númenor que Sauron sofre um primeiro golpe que deixaria sequelas para o resto de sua existência, pois nem em sua malícia acreditou que a ira dos Valar cairia tão pesada contra a insurgência dos númenorianos. Pois Sauron perdeu sua forma física e retornou ao estado espiritual, e, daqui em diante, perdeu a capacidade de assumir uma bela forma aos olhos dos Filhos de Ilúvatar.

“… Foi apanhado no meio de seu júbilo; e sua cadeira e seu templo caíram no abismo. Sauron, entretanto, não era de carne mortal; e, embora estivesse agora destituído dessa forma na qual havia cometido tanto mal, para nunca mais voltar a parecer simpático aos olhos dos homens, mesmo assim seu espírito se elevou das profundezas e passou como uma sombra e um vento escuro por cima do mar, voltando à Terra-média e a Mordor, que era seu lar. Ali, ele mais uma vez apanhou seu magnífico Anel em Barad-dûr; e ali permaneceu, sinistro e mudo, até inventar para si uma nova aparência, uma imagem de perversidade e ódio tornados visíveis; e poucos conseguiam encarar o Olho de Sauron, o Terrível.” (J. R. R. Tolkien – O Silmarillion, Akkalabêth)

Logo, é possível concluir que, após a submersão de Númenor e a própria destruição de seu belo corpo, Sauron em espírito retorna à Terra-média, mas agora só pode assumir uma forma terrível “de perversidade e ódio tornados visíveis”, uma descrição bem parecida com aquela que foi feita de seu mestre Melkor/Morgoth: “um Senhor cruel, alto e terrível”. Outro ponto a se destacar é que é citado aqui, pela primeira vez, o chamado Olho de Sauron, e isto é feito ainda antes da próxima destruição física dele nas mãos de Elendil e Gil-galad na Guerra da Última Aliança. Ou seja, já se fala do Olho ao mesmo tempo em que Sauron possuía forma física humanoide, o que será explicitado mais a frente.
Agora, os remanescentes de Númenor uniram-se aos elfos liderados por Gil-galad, Alto-Rei dos Noldor na Terra-média, e Sauron aumentava seu exército contra a guerra iminente, chegando a corromper ainda grande parcela de númenorianos (incluindo-se aí alguns portadores dos Nove Anéis, os Nazgûl). E o Senhor do Escuro se armou:

“Agora, ruminava no escuro até elaborar uma nova forma para si mesmo. E ela era terrível, pois sua bela aparência havia desaparecido para sempre quando ele fora lançado nas profundezas durante a submersão de Númenor. Ele voltou a usar o Grande Anel e os trajes de poder. E a maldade do Olho de Sauron poucos, mesmo dos mais fortes entre elfos e homens, conseguiam suportar.” (J. R. R. Tolkien – O Silmarillion, Dos Anéis de Poder e da Terceira Era) (destaque nosso)

Mais uma vez, é citado o Olho de Sauron ao mesmo tempo que ele possui corpo, que veste os trajes do poder e usa o Um Anel no dedo. Já se pode concluir que Sauron não é um olho gigante, e que o Olho tem outro significado (um símbolo de dominação e influência).
Já é o final da Segunda Era, e a Aliança de elfos e homens combate as forças do mal em Dagorlad, à frente do Portão Negro, até que, na própria Terra Negra, Elendil e Gil-galad lutam com Sauron e o matam, apesar de morrerem também:

“No final, porém, o cerco era tão rigoroso, que o próprio Sauron se apresentou; e lutou com Gil-galad e Elendil, matando os dois; e a espada de Elendil quebrou quando ele tombou. Mas Sauron também foi derrubado; e, com o toco de Narsil, Isildur arrancou o Anel Governante da mão de Sauron e ficou com ele para si. Então Sauron foi derrotado por algum tempo e abandonou seu corpo. Seu espírito fugiu para longe e se ocultou em local ermo. E por muitos anos ele não voltou a assumir forma visível.” (J. R. R. Tolkien – O Silmarillion, Dos Anéis de Poder e da Terceira Era)

Este foi o fim da Segunda Era e o início da Terceira, com Sauron derrotado e mais uma vez tendo perdido seu corpo físico.


A Batalha da Última Aliança (arte de Entar0178).

5. A Terceira Era

Durante um longo período da Terceira Era, Sauron esteve diminuído e fraco, e a Terra-média pôde prosperar por um tempo sem sua escuridão. No entanto, quando cerca de um terço da Terceira Era havia passado, os primeiros sinais do retorno da Sombra começam a aparecer na Grande Floresta Verde.

“(…) Preparava-se, entretanto, o Domínio dos Homens e tudo estava em transformação, até que afinal o Senhor do Escuro se ergueu novamente na Floresta das Trevas.
Ora, desde tempos remotos o nome daquela floresta era Grande Floresta Verde, e seus amplos salões e corredores eram o abrigo de muitos animais e de pássaros de canto belíssimo. E havia o reino do Rei Thranduil à sombra do carvalho e da faia. Entretanto, depois de muitos anos, quando quase um terço daquela Era do mundo se passara, uma escuridão foi cobrindo lentamente a floresta a partir do sul; e o medo ali caminhava em atalhos sombrios. Animais ferozes vinham ali caçar, e criaturas cruéis e nefastas ali instalavam suas armadilhas.
Mudou então o nome da floresta, e ela passou a se chamar Floresta das Trevas, pois era ali densa a sombra da noite, e poucos ousavam passar por ela, à exceção apenas do norte, onde o povo de Thranduil ainda mantinha o mal a distância. De onde vinha, poucos saberiam dizer, e demorou muito até que os próprios Sábios descobrissem o que era. Eram a sombra de Sauron e o sinal de seu retorno. Pois, vindo dos ermos do leste, ele fixou residência no sul da floresta; e aos poucos foi voltando a crescer e a adquirir forma. Numa colina escura, ele fez sua morada e ali criava seus feitiços. E todo o povo temia o Feiticeiro de Dol Guldur, e no entanto de início eles não sabiam como era enorme o risco que corriam.” (J. R. R. Tolkien – O Silmarillion, Dos Anéis de Poder e da Terceira Era)

Foi nesta época do aumento da Sombra que apareceram pela primeira vez os Istari, magos vindos do Oeste. Não falaremos muito deles aqui, pois é tema para outro trabalho. Mas foi um deles quem descobriu que a Sombra ao sul da Floresta das Trevas, o feiticeiro Necromante, era Sauron, que havia assumido novamente sua forma (a forma com a qual havia praticado suas maldades antes da destruição, como será explicado mais adiante):

“- Infelizmente, nossa suposição é verdadeira – disse ele, ao voltar a Elrond. – Não se trata de um dos úlairi, como muitos há muito imaginam. É o próprio Sauron que voltou a assumir uma forma e agora cresce rapidamente. E ele está recolhendo todos os Anéis em suas mãos.” (J. R. R. Tolkien – O Silmarillion, Dos Anéis de Poder e da Terceira Era)
Chegamos, então, ao ponto em que Sauron novamente adota uma forma, aquela que teria até o final da Guerra do Anel. Como foi mostrado acima, ele não podia mais assumir uma bela forma, então com que aparência o Sauron “ressuscitado” teria se apresentado? A resposta, Tolkien escreveu na Carta n.º 246, em que o autor discute especificamente eventos da Terceira Era:
“Sauron deve ser visto como deveras terrível. A forma que assumiu foi a de um homem de uma estatura mais do que humana, mas não gigante.” (Carta 246, em As Cartas de J. R. R. Tolkien, editado por Humphrey Carpenter)

Uma frase curta e direta, mas que explica muita coisa: com o poder diminuído após tantas destruições, Sauron fica fadado à forma humanoide e horripilante. Ao contrário do que imaginam muitos leitores, Sauron não foi ficando mais forte com o passar das Eras: na Terceira Era, apesar de ainda poderoso, não chegava perto do ser que havia sido no passado. O próprio Tolkien explica que isso é devido à corporificação com que tanto Melkor quanto Sauron se utilizaram para dominar a matéria de Arda. Segundo um ensaio de Tolkien denominado “Osánwe-kenta”:

“Somente Melkor entre os Grandes se tornou finalmente aprisionado a uma forma corpórea; mas isso foi pelo uso que ele fez em seu propósito de se tornar o Senhor dos Encarnados, e dos grandes males que ele fez em corpo visível. Ele também dissipou seus poderes nativos para controlar seus agentes e servos, de forma que ele se tornou, no final, em si mesmo e sem seu apoio, uma coisa enfraquecida, consumida pelo ódio e incapaz de restaurar a si mesmo do estado do qual ele havia caído. Nem mesmo sua forma visível ele podia mais controlar, de forma que sua hediondez não podia mais ser mascarada, e ficava visível o mal em sua mente. Assim aconteceu também com alguns de seus maiores servos, como vemos nesses últimos dias: eles tornaram-se apegados às formas com as quais praticaram suas más ações, e se esses corpos lhes fossem tomados ou destruídos, eles eram nulificados, até que eles reconstruíssem uma aparência de suas habitações anteriores, com as quais eles poderiam continuar os cursos maléficos aos quais eles tinham iniciado. (Pengolodh aqui, evidentemente, se refere a Sauron em particular, que se elevou e fugiu finalmente da Terra-Média. Mas a primeira destruição corpórea de Sauron está registrada nas histórias dos Dias Antigos, na Balada de Leithian.” (J. R. R. Tolkien – Osánwe-kenta, publicado no Vinyar Tengwar n.º 39 em jul/1998) (destaque nosso)

Agora, tudo fica claro. Sauron, assim como seu antigo Mestre, ficou aprisionado a uma forma corpórea com a aparência de sua habitação anterior à sua destruição. Sua destruição anterior havia sido na Última Aliança de Elfos e Homens, quando ele já estava preso à forma terrível e maligna, incapaz de se apresentar belo (esta sequela, como vimos, foi decorrência da Queda de Númenor). Por isso, na Carta 246, citada acima, Tolkien diz que Sauron deve ser visto como deveras terrível. Aqui, novamente, é provado que Sauron nunca foi um olho gigante, pois o texto do Osánwe-kenta é categórico em afirmar que, quando destruído, ele só poderia agora reconstruir sua aparência como a habitação anterior à destruição, e já mostramos anteriormente que Sauron nunca havia tomado a forma de um olho gigante, e sim de um homem alto com aparência terrível.

Sauron, O Senhor dos Anéis (arte de Apterus).
Talvez, a dificuldade que alguns leitores tenham tido de visualizar Sauron, na época da Guerra do Anel, como tendo um corpo humanoide seja fruto do fato de que, em “O Senhor dos Anéis”, Tolkien dá meras pinceladas de Sauron, que não toma parte diretamente nos acontecimentos, ficando no alto de sua Torre Escura. Além disso, a questão de ser citado seu Olho diversas vezes leva alguns a crerem que ele era um olho. Porém, os textos da Carta 246 e do Osánwe-kenta, citados acima, deixam bem claro como Sauron devia ser visto. Além disso, há sim algumas passagens do livro em que fica subentendido que Sauron tinha forma física. Vejamos algumas:

a) A passagem mais famosa, que demonstra a forma humanoide de Sauron, é uma revelação de Gollum/Sméagol, o qual ficou um período prisioneiro de Mordor, onde foi torturado e interrogado pelo próprio Sauron, o que é demonstrado pelo diálogo:

“-Seria Minas Ithil, que Isildur, filho de Elendil, construiu – disse Frodo. – Foi Isildur quem decepou o dedo do Inimigo.
– Sim, Ele só tem quatro na Mão Negra, mas são suficientes – disse Gollum tremendo. – E Ele odiava a cidade de Isildur.” (J. R. R. Tolkien – As Duas Torres, O Portão Negro Está Fechado)

Constata-se, assim, que Gollum visualizou a ausência do dedo do Anel na Mão Negra de Sauron enquanto este o torturava. Relembramos, aqui, que fica implícito que um ferimento imposto a uma forma física persiste quando há adoção de nova forma, por isso a ausência do dedo no corpo reconstruído. A primeira vez que percebemos isso, conforme foi demonstrado acima, foi quando Sauron voou na forma de vampiro com a garganta aberta pela mordida de Huan quando estava ainda na forma de lobisomem (na Primeira Era).
Apenas a título de curiosidade, parece que, caso um Ainu fosse ferido gravemente em forma corpórea, a cicatriz permaneceria pelo resto de sua existência física, como acabamos de ver com Sauron, ou mesmo Melkor/Morgoth, que “mancou para sempre (…) e, no rosto, trazia a cicatriz deixada por Thorondor” (J. R. R. Tolkien – O Silmarillion, Da Ruína de Beleriand e da queda de Fingolfin).

b) Outra passagem que revela a presença física de Sauron demanda uma pesquisa um pouco mais aprofundada. Diz respeito ao que aconteceu a Shagrat, o orc que chefiava a Torre de Cirith Ungol. De acordo com “O Conto dos Anos”, em “O Senhor dos Anéis”:

“17 de março de 3019 da Terceira Era. (…) Shagrat leva a capa, a cota de malha e a espada de Frodo para Barad-dûr.” (J. R. R. Tolkien – O Senhor dos Anéis, Apêndice B: O Conto dos Anos)

É curioso que seja informado que Shagrat levou as peças de Frodo para Sauron, que estava em Barad-dûr, e nada se diga da reação de Sauron ao receber os materiais. Porém, há um diálogo entre os orcs que deixa implícito que Shagrat teve um destino trágico:

“- Volte aqui – gritou o soldado -, ou vou denunciar você!
– Para quem? Não para o seu precioso Shagrat. Ele não vai mais ser capitão.
– Vou dar seu nome e número para os nazgûl – disse o soldado, abaixando a voz num chiado. – Um deles é o encarregado da Torre agora.” (J. R. R. Tolkien – O Retorno do Rei, A Terra da Sombra)

Ora, Shagrat levou as peças de Frodo para Sauron, e os orcs comentam que ele agora não era mais capitão de Cirith Ungol. O que será que aconteceu com Shagrat? A resposta está no livro The Lord of The Rings A Reader´s Companion, que é “O Senhor dos Anéis” comentado por Wayne G. Hammond e Christina Scull. Os autores tiveram acesso a praticamente todas as anotações de Tolkien sobre “O Senhor dos Anéis”, e um desses documentos é o Scheme (“Esquema”), a última e unicamente completa linha do tempo manuscrita por Tolkien com os acontecimentos de “O Senhor dos Anéis”, ou seja, é o roteiro que Tolkien utilizou enquanto criava a história, que hoje se encontra arquivado na Universidade de Marquette.
Segundo conta o Scheme, como foi revelado por Hammond e Scull, Shagrat é morto por Sauron. Esta é uma informação importantíssima, já que complementa o que foi dito n´O Conto dos Anos. Possivelmente, Sauron ficou possesso ao perceber que seu precioso Um Anel não estava nos despojos de Frodo levados por Shagrat e acabou derramando sua fúria sobre o orc, dando cabo de sua vida.

c) Quando os Capitães do Oeste se dirigem para o Portão Negro de Mordor a fim de desviar o olhar do Senhor do Escuro, Aragorn e seus companheiros fazem um chamado para que Sauron se apresente em pessoa e os confronte:

“- Apareça! – gritaram eles. – Que o Senhor da Terra Negra apareça! Justiça será feita para com ele. Pois agiu mal travando guerra contra Gondor e roubando suas terras. Portanto o Rei de Gondor ordena que ele repare seus erros e depois parta para sempre. Apareça!” (J. R. R. Tolkien – O Retorno do Rei, O Portão Negro se Abre)

d) A estrada de Sauron: o Senhor do Escuro fazia questão de manter sempre limpa e conservada uma estrada que fazia o caminho direto entre sua Torre Escura de Barad-dûr e Orodruin, a Montanha da Perdição:

A Estrada de Sauron (arte de Tolkien).

“A trilha não fora colocada lá para os propósitos de Sam. Ele não sabia, mas estava olhando para a Estrada de Sauron, que ia de Barad-dûr até os Sammath Naur, as Câmaras de Fogo. Saindo do enorme portão oeste da Torre Escura, a estrada passava sobre um abismo profundo através de uma ampla ponte de ferro e depois, entrando na planície, continuava por cerca de uma légua entre duas fendas fumegantes, e assim atingia um longo passadiço inclinado que conduzia até a encosta leste da Montanha. Depois, fazendo uma curva e contornando toda a circunferência de sul a norte, ela finalmente subia, alta no cone superior, mas ainda longe do topo cheio de vapores, até uma entrada escura que dava para o leste, diretamente na direção da Janela do Olho na fortaleza de Sauron, envolta em sombra. Frequentemente bloqueada ou destruída por tumultos nos fornos da Montanha, essa estrada era sempre consertada e limpa pelo trabalho de incontáveis orcs.” (J. R. R. Tolkien – O Retorno do Rei, A Montanha da Perdição)

Naturalmente, Sauron precisava de um caminho por onde ele pudesse facilmente alcançar a Montanha, pois era lá que ele fazia seus feitiços mais poderosos e também jogava sombras nos céus, como tantas vezes é relatado. Por tal caminho, Sauron era capaz de se deslocar para as Câmaras de Fogo e realizar sua feitiçaria:

“Ali, sobre o vale de Gorgoroth, foi construída sua fortaleza enorme e poderosa, Barad-dûr, a Torre Escura. E havia uma montanha de fogo naquela terra, que os elfos chamavam de Orodruin. Com efeito, por esse motivo, Sauron havia fixado moradia ali no passado remoto, pois usava o fogo que brotava das entranhas da terra em seus feitiços e em sua forja.” (J. R. R. Tolkien – O Silmarillion, Dos Anéis de Poder e da Terceira Era) (destaque nosso)

6. O Olho de Sauron

Ficou comprovado, assim, que Sauron tinha forma física na época da Guerra do Anel, e parecia um homem bem alto e terrível. Então, o que seria o Olho de Sauron?

O Olho de Sauron (arte de J. R. R. Tolkien).
O Olho de Sauron era a representação de sua vigilância sempre alerta sobre os povos da Terra-média. Do alto de sua Torre, onde é citada a Janela do Olho, Sauron perscrutava as distâncias, o que levou algumas pessoas a acreditarem que o Olho poderia ser o palantír que ele possuía. No entanto, um fato menos conhecido dos leitores, Morgoth também tinha o mesmo poder do Olho, conforme é explicado por Tolkien na seguinte passagem:

“É verdade, é claro, que Morgoth mantinha os Orcs em horrenda sujeição; pois, em sua corrupção, eles haviam perdido quase toda a possibilidade de resistir a sua vontade. Tão grande, de fato, se tornou a pressão sobre eles antes da queda de Angband que, se ele voltasse seu pensamento em sua direção, eles tinham consciência de seu ´olho´ voltado para eles; e quando Morgoth foi afinal expurgado de Arda, os Orcs que sobreviveram no oeste foram dispersados, sem liderança e quase tolos, e ficaram por um longo tempo sem controle ou propósito.
Esta servidão a uma vontade central que reduziu os Orcs quase a um estado de formiga foi vista ainda mais nitidamente na Segunda e Terceira Eras sob a tirania de Sauron, o primeiro-tenente de Morgoth. Sauron, de fato, ainda alcançou um maior controle sobre seus Orcs do que Morgoth havia conseguido.” (J. R. R. Tolkien – Morgoth´s Ring, Myths Transformed – X) (destaque nosso).

O Olho não podia ver tudo ao mesmo tempo, tendo que se concentrar em eventos isolados, e ainda poderia ser distraído:

“- Sua dúvida está crescendo, neste exato momento em que estamos falando aqui. Seu Olho está agora perscrutando em nossa direção, praticamente cego para tudo o mais que se move. Assim devemos mantê-lo. Aí está toda a nossa esperança. Este, então, é o meu conselho: não possuímos o Anel. Por sabedoria, ou por uma grande loucura, nós o enviamos para longe para ser destruído, e para evitar que nos destruísse. Sem o Anel, não podemos pela força destruir a força de Sauron. Mas devemos a todo custo manter seu Olho longe do verdadeiro perigo que o ameaça. Não podemos conquistar a vitória por meio das armas, mas por meio das armas podemos dar ao Portador do Anel sua única oportunidade, por mais frágil que seja.” (J. R. R. Tolkien – O Retorno do Rei, O Portão Negro se Abre)

O Olho era também uma metáfora de Sauron, assim como a Mão Branca era metáfora de Saruman. E o símbolo de Sauron era o olho fendido e sem pálpebras.
Além disso, o Olho era a forma da visão que os personagens sentiam quando Sauron voltava sua atenção a eles:

“Durante um momento fugaz, como se emitida de alguma grande janela incomensuravelmente alta, cortou o céu ao norte uma chama vermelha, o faiscar de um olho penetrante; depois as sombras se adensaram de novo e a terrível visão foi removida. O Olho não estava voltado para eles: olhava para o norte, onde os Capitães do Oeste estavam encurralados, e para lá voltava agora toda a sua maldade, enquanto o poder se movia para desferir seu golpe mortal; mas Frodo, diante daquela rápida visão, sentiu-se como alguém golpeado mortalmente. Sua mão procurou a corrente em volta do pescoço.” (J. R. R. Tolkien – O Retorno do Rei, A Montanha da Perdição)

Sauron desenhado por J. R. R. Tolkien para a capa de O Retorno do Rei.
Finalmente, com a destruição do Um Anel, Sauron perde totalmente sua capacidade de tomar forma novamente, acontecendo conforme Gandalf explicou a seus amigos:

“- Em relação a essa coisa, meus senhores, agora todos vocês sabem o suficiente para o entendimento da nossa situação, e da de Sauron. Se ele a conseguir de volta, a valentia de vocês será inútil, e a vitória dele será rápida e completa: tão completa que ninguém pode prever o fim dela enquanto durar o mundo. Se ela for destruída, então ele cairá, e sua queda será tão grande que ninguém pode prever a possibilidade de que jamais venha a ascender de novo. Pois perderá a melhor parte da força que nasceu junto com ele, e tudo o que foi feito ou começado com esse poder ruirá, e ele ficará mutilado para sempre, transformando-se num simples espírito maligno que se corrói nas sombras, mas que não pode crescer ou tomar forma outra vez. E assim desaparecerá um grande mal deste mundo.” (J. R. R. Tolkien – O Retorno do Rei, O Último Debate)

Fonte: Tolkien Brasil

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